Entrevistando Fabio Shiva.

00:00 Fernanda Bizerra 20 Comments

Fabio Shiva
1- Fê: De onde veio à ideia para escrever “O Sincronicídio”?

Fabio: Escrevi este livro porque precisava, foi uma necessidade existencial. A ideia inicial para o livro surgiu em um momento muito difícil de minha vida, em que eu aparentemente havia perdido tudo. Eu havia sido contratado como ghost-writer para escrever sobre uma grande tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, onde eu morava na época. No começo parecia um sonho, pois eu estava sendo pago para fazer algo que amo tanto, que é escrever. Só que à medida que eu ia mergulhando nesse trabalho, as coisas foram ficando mais e mais sombrias, e quase que minha própria vida foi engolida por essa tragédia. E um belo dia me vi sem trabalho, sem livro e sem perspectivas. Não quero entrar em detalhes, até porque pretendo aproveitar essa dolorosa experiência futuramente em uma obra de ficção. Mas naquele momento, o caminho de saída que encontrei foi escrever o meu próprio livro. Escrever “O Sincronicídio” foi a maneira que encontrei de preservar a minha própria sanidade. Parece melodramático, e é. Mas a vida real muitas vezes é mesmo melodramática!

2- Fê: Em sua pesquisa de campo, você participou de algum ato, dos que são descritos no livro, ou eles são meramente ficção?


Fabio: Escrever esse livro envolveu muita pesquisa. Todos os livros e teorias citados em “O Sincronicídio” são factuais, com a exceção de “La Coincidenza” de Mario Bodoni, que é um dos personagens. Algumas das incríveis ideias apresentadas no livro, como a vida dos metais, foram realmente demonstradas em pesquisas científicas. Como um dos temas principais do livro é a sincronicidade, muitas delas ocorreram enquanto eu estava escrevendo. Uma que me marcou muito ocorreu quando eu escrevia a cena do envenenamento por chumbinho. Eu estava justamente pesquisando o assunto quando fui chamado às pressas para socorrer um amigo muito querido que tentou se matar dessa forma. Outra sincronicidade marcante ocorreu na fase da pesquisa sobre os procedimentos da polícia. As informações mais importantes sobre a rotina policial obtive de uma inspetora que estava me interrogando como suspeito, por conta dessa confusão toda ocorrida com o livro que eu estava escrevendo como ghost-writer. Muitas vezes acontece também da vida imitar a arte!


Talvez a sua pergunta se refira especificamente às cenas de sexo, que fogem bastante ao lugar comum. O sexo e a morte – Eros e Thanatos – são as duas grandes forças antagônicas que movem os personagens de “O Sincronicídio”. Mas eu não queria utilizar o sexo como um mero recurso erótico... digamos que segui mais a cartilha do Nelson Rodrigues que a do Harold Robbins! A chave para entender o uso que fiz do sexo nesse livro é a seguinte: escrevi as cenas de sexo como se fossem cenas de morte, e as cenas de morte como se fossem cenas de sexo!

3- Fê: Fale-nos sobre a sua ideologia?

FabioMinha ideologia é o Amor. Minha religião é o Amor. Minha filosofia é o Amor. Pode parecer estranho que eu pense assim e tenha escrito um livro tão repleto de cenas fortes, mas não existe contradição. Busco através da literatura investigar a minha própria Sombra, no sentido Junguiano da palavra, e também a Sombra do mundo. Revelar o mal é também uma maneira de combater o mal.
Mas não escrevo apenas sobre aquilo que me incomoda. Um livro que escrevi em parceria com meu irmão Fabrício Barretto apresenta a luz na qual acredito: é o “MANIFESTO – Mensageiros do Vento”, cuja versão digital está disponível gratuitamente no site da banda (http://www.mensageirosdovento.com.br/Manifesto.html).

4- Fê: O que você espera do Brasil, ou onde a situação em que vivemos nos levará?

Fabio: Vivemos em um momento de grandes e rápidas transformações, não somente no Brasil, como no mundo inteiro e também individualmente. É uma época sem precedentes, de fim de ciclo, de destruição dos velhos valores para que novos valores e ideias possam surgir. É como se o mundo inteiro estivesse em trabalho de parto, para o nascimento de algo novo. E o nascimento não é nada pacífico. Considero nascer muito mais assustador que morrer, é um ato de grande violência. É essa violência que estamos testemunhando no Brasil e no mundo, em todos os níveis. Mas é justamente por pressentir o nascimento do novo nessas convulsões que tenho muita fé no futuro. Acredito que não será fácil a jornada, mas que estamos caminhando para um Brasil e um mundo melhores que os atuais.

5- Fê: O que os leitores podem esperar de seu segundo livro?

Fabio: Meu segundo livro solo já está pronto, é um livro de contos intitulado “Isso Tudo É Muito Raro”, onde a proposta básica foi escrever quatro pares de contos opostos e complementares. Cada par de contos trata do mesmo tema, mas de forma completamente diferente um do outro. O conto que dá nome ao livro, inclusive, traz os Olimpianos, personagens de “O Sincronicídio”.

Meu próximo livro a ser publicado é a antologia “RedruM: Contos de Crime e Morte”, que sairá dentro de alguns meses pela Caligo Editora. Participo desse livro com a história “A Marca”, juntamente com outros seis autores: Pedro Viana, José Geraldo Gouvêia, Bia Machado, Diogo Bernadelli, Vitor Toledo e A. Z. Cordenonsi. Acredito que esse livro irá agradar bastante os apreciadores de histórias clássicas de assassinato!
E atualmente estou escrevendo meu segundo romance, chama-se “Favela Gótica”. Sobre esse livro, só posso dizer que é o material mais forte que já escrevi. Sombra pouca é bobagem!

6- Fê: Como teve a ideia de escrever sobre uma moeda com tamanho benefício sexual (risos!)?

Fabio: As moedas aparecem na história de uma forma simbólica, metafórica... a grande questão não é tanto o benefício sexual que elas proporcionam, mas o preço que elas cobram por isso. A ideia surgiu a partir das pesquisas do grande cientista indiano, J. C. Bose, a respeito da vida dos metais.

7- Fê: Como foi a busca por uma editora?

Fabio: Foi longa e árdua. São muito raras as editoras dispostas a investir em novos autores nacionais. Na grande maioria das vezes, o autor estreante só consegue publicar arcando com os custos da edição. Mas eu acredito que tudo que é bom e importante nessa vida dá trabalho, e assim não desisti. E minha persistência foi premiada com juros, pois considero a Caligo uma das melhores editoras que atuam hoje no Brasil. É uma editora pequena ainda, mas que nasceu com um coração gigante, acreditando no valor e na força da literatura brasileira. Todos que trabalham lá, trabalham com amor. E tudo o que é feito com amor tem sucesso, inevitavelmente. Para o alto e avante, Caligo!

8- Fê: Fale um pouco de seus personagens de Sincronicídio.

Fabio: São todos muito queridos por mim, inclusive e especialmente os vilões! Não saberia falar de cada um deles sem revelar detalhes da história que prefiro que o leitor descubra por si mesmo ao ler o livro. Posso dizer apenas que os personagens foram concebidos a partir do seguinte mote: as bodas alquímicas de Isaac e Agatha, com as bênçãos do Padre Hermann. Então os personagens fazem muitas referências e homenagens a esses três autores que tanto amo: Isaac Asimov, Agatha Christie e Hermann Hesse!

9- Fê: Futuro...


Fabio: Não me interesso muito pelo futuro, tampouco pelo passado. Procuro viver o presente, estar no “aqui e agora” o maior tempo possível. Parece uma bobagem o que acabo de dizer, mas muitas pessoas que conheço vivem a maior parte do tempo ou no passado ou no futuro, imersas em recordações dolorosas ou em temores e ansiedades pelo que virá. Viver no presente não é tarefa fácil, é um grande desafio para a mente humana! Como tudo o que é bom e importante, aliás! Pois viver o momento presente, para mim, representa o caminho da verdadeira felicidade, o caminho de descoberta do sentido da vida!

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Fê :*

20 comentários:

  1. Bom dia, Fê!
    Gosto muito de ler essas entrevistas, pois assim acabo conhecendo autores e livros que me captam muito a atenção. A entrevista está ótima, as respostas do autor são incríveis e me fizeram refletir. Acho maravilhoso ver como uma experiência difícil pode transformar uma pessoa e fazer com que ela crie algo bom, e é o que parece ter acontecido aqui. Espero conhecer a obra em breve, um abraço!

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  2. Oi Fê!
    Não conhecia esse autor nem sua obra, mas adoro essas entrevistas que os autores dão aos blogueiros, porque assim fico sabendo de tantas e tantas histórias <3 Confesso que não me senti muito atraída pela história de "O Sincronicídio" (espero que eu tenha escrito certo), mas achei fascinante saber um pouco sobre como o autor chegou ao projeto final, e isso de a vida real se tornar livro vez ou outra é incrível. Sucesso para ele!

    Beijos
    Blog Procurei em Sonhos

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  3. Que entrevista interessante. Não conhecia o autor, mas conhecer um pouco sobre suas perspectivas sobre o mundo muito me agradou.

    Beijos,
    Nina & Suas Letras

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  4. Caramba! Fiquei super curiosa pra ler esse livro, como as próximas obras do autor. Achei o tema diferente (sei que pode embaralhar minha cabeça....rs), a capa diferente, e adoro livros com trilhas sonoras. Beijos Fê, parabéns pela entrevista.

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  5. Eu não conhecia o autor nem ao livro, mas achei bastante interessante a entrevista :)

    Beijos, Paradoxo Perfeito

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  6. Oi Fê! Não conhecia o autor, mas achei a entrevista bem legal e fiquei interessada no livro.
    Bom saber que a ideologia dele é o Amor e tem esperanças de um país melhor, algo um tanto raro nos dias atuais.
    Gostei dele e da temática do livro!

    Beijooos
    Lara - Magia Literária
    http://www.magialiteraria.com/

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  7. Oi Fe!
    Muito boa sua entrevista é sempre bom conhecer um pouco mais dos escriotes!
    Abraços....
    literatura-para-o-saber.webnode.com

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  8. Oi Fê,

    Muito boa a entrevista, gostei das respostas do autor, muito boas. Achei o livro bem interessante.

    Beijinhos,

    Rafaella Lima
    Vamos Falar de Livros?

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  9. Nossa! Não sabia do autor e nem do livro e pude perceber que o livro é bastante intenso! Eu gostei do que tem escrito na foto. Que ele não gosta de matar um personagem logo depois de criado! Tem que deixar ele viver um pouco. Muito bom isso! bjs
    http://www.horadaleitur.blogspot.com.br/

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  10. Oi Fê, tudo bem ?
    Eu não conhecia nem o livro nem o autor, achei muito interessante a sua entrevista com ele ♥
    fiquei encantada com esse inicio de resposta, " Minha ideologia é o Amor. Minha religião é o Amor. Minha filosofia é o Amor." ele se mostrou um homem sensível e eu gosto disso.

    beijinhos da Lêeh
    e parabéns !

    http://maetoescrevendo.blogspot.com.br

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  11. Menina , que respostas fortes em... o autor parece realmente ter escrito a história com todo o coração. Achei o título muito interessante.
    Beijos.
    seforasilva.blogspot.com

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  12. Oi Fê !

    Muito Bom, vc tem um talento para essas coisas ! Sempre deixando os leitores mais pertinho dos autores, valorizando a literatura nacional !
    Beijoos,

    http://livrosmitologiaeromance.blogspot.com.br/

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  13. Fê!
    Sou suspeita para falar...
    O Fabinho é meu amigo de muito tempo, mas falo não pela amizade, falo pela qualidade, inteligência e criatividade que ele imprimiu nesse enredo fantástico e maravilhoso no Sincronicídio. Não percam a leitura.
    E a entrevista é leve e descontraída, como o amigo é, então, não tem como não ser boa.
    Sabia que estou lá no livro? Atente quando o amigo faz os agradecimentos...kkkkk
    Sucesso Fabinho!!
    cheirinhos
    Rudy
    MTE-GRUPO NO FACE

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  14. Oi, Fê!
    Já ouvi falar desse livro e a primeira vista já gostei hahaha bem legal saber mais sobre o autor, ajuda a dar um olhar mais aprofundado a obra, né?
    Beijos

    Devaneios Estrellares

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  15. Tenho que confessar que não conhecia esse livro nacional.
    E olha que tenho divulgado bastante autores ultimamente.
    Achei a capa do livro maravilhosa e agora vou assistir o video para ver se gosto da história.
    E dar uma pesquisada, porque se for meu gênero de leitura, com certeza vai entrar pra minha lista. Eu adorei a entrevista também onde o autor coloca os pontos importantes sobre o livro. Achei bem interessante. Parabens pelo seu blog linda =] Já estou seguindo aqui viu? Poderia me retribuir também? Espero que possamos ser boas amigas. Bjokas

    lovereadmybooks.blogspot.com.br

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  16. Bom dia!
    Que entrevista fantástica!! Fabio Shiva se tornou minha inspiração após ler O Sincronicídio. Gosto muito do estilo da escrita dele e também das filosofias de vida. Ficou show!
    Abraços

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  17. Olá Fe.
    Não conhecia o autor e nem a obra, mas achei bem curiosa a história de vida dele e fique curiosa para saber que mistério foi esse que se abateu sobre sua vida.
    Vou procurar conhecer o livro dele.
    Beijos

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  18. Oi Fê, tudo bem?
    Nossa, acho que essa foi a entrevista mais intensa que eu já li. O livro desse autor promete. Fiquei muito interessada, não sei se vou gostar ou não da história em si, mas as ideias, a experiência de vida, as metáforas, nossa tudo, dever ser muito bom.
    Mais um autor nacional incrível que eu quero conhecer.
    Sucesso par ao autor. excelente entrevista.
    beijinhos.
    cila-leitora voraz
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  19. Olá Fê,

    Não conhecia o autor e nem o livro, gostei muito da entrevista e vejo o quão difícil foram as coisas para o autor, mas espero ler uma resenha para avaliar melhor sua obra...abraços.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

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  20. Muito grato por essa linda força e pelos carinhosos comentários!
    Viva a literatura brasileira!

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