Entrevistando Fabio Shiva.
1- Fê: De
onde veio à ideia para escrever “O Sincronicídio”?
Fabio: Escrevi este livro porque precisava,
foi uma necessidade existencial. A ideia inicial para o livro surgiu em um
momento muito difícil de minha vida, em que eu aparentemente havia perdido
tudo. Eu havia sido contratado como ghost-writer
para escrever sobre uma grande tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, onde eu
morava na época. No começo parecia um sonho, pois eu estava sendo pago para
fazer algo que amo tanto, que é escrever. Só que à medida que eu ia mergulhando
nesse trabalho, as coisas foram ficando mais e mais sombrias, e quase que minha
própria vida foi engolida por essa tragédia. E um belo dia me vi sem trabalho,
sem livro e sem perspectivas. Não quero entrar em detalhes, até porque pretendo
aproveitar essa dolorosa experiência futuramente em uma obra de ficção. Mas
naquele momento, o caminho de saída que encontrei foi escrever o meu próprio
livro. Escrever “O Sincronicídio” foi a maneira que encontrei de preservar a
minha própria sanidade. Parece melodramático, e é. Mas a vida real muitas vezes
é mesmo melodramática!
2- Fê: Em
sua pesquisa de campo, você participou de algum ato, dos que são descritos no
livro, ou eles são meramente ficção?
Fabio: Escrever esse livro envolveu muita
pesquisa. Todos os livros e teorias citados em “O Sincronicídio” são factuais,
com a exceção de “La Coincidenza” de Mario Bodoni, que é um dos personagens.
Algumas das incríveis ideias apresentadas no livro, como a vida dos metais,
foram realmente demonstradas em pesquisas científicas. Como um dos temas
principais do livro é a sincronicidade, muitas delas ocorreram enquanto eu
estava escrevendo. Uma que me marcou muito ocorreu quando eu escrevia a cena do
envenenamento por chumbinho. Eu estava justamente pesquisando o assunto quando
fui chamado às pressas para socorrer um amigo muito querido que tentou se matar
dessa forma. Outra sincronicidade marcante ocorreu na fase da pesquisa sobre os
procedimentos da polícia. As informações mais importantes sobre a rotina
policial obtive de uma inspetora que estava me interrogando como suspeito, por
conta dessa confusão toda ocorrida com o livro que eu estava escrevendo como ghost-writer. Muitas vezes acontece
também da vida imitar a arte!
Talvez a sua pergunta se refira
especificamente às cenas de sexo, que fogem bastante ao lugar comum. O sexo e a
morte – Eros e Thanatos – são as duas grandes forças antagônicas que movem os
personagens de “O Sincronicídio”. Mas eu não queria utilizar o sexo como um
mero recurso erótico... digamos que segui mais a cartilha do Nelson Rodrigues
que a do Harold Robbins! A chave para entender o uso que fiz do sexo nesse
livro é a seguinte: escrevi as cenas de sexo como se fossem cenas de morte, e
as cenas de morte como se fossem cenas de sexo!
3- Fê: Fale-nos
sobre a sua ideologia?
Fabio: Minha ideologia é o Amor. Minha
religião é o Amor. Minha filosofia é o Amor. Pode parecer estranho que eu pense
assim e tenha escrito um livro tão repleto de cenas fortes, mas não existe
contradição. Busco através da literatura investigar a minha própria Sombra, no
sentido Junguiano da palavra, e também a Sombra do mundo. Revelar o mal é
também uma maneira de combater o mal.
Mas não escrevo apenas sobre aquilo
que me incomoda. Um livro que escrevi em parceria com meu irmão Fabrício
Barretto apresenta a luz na qual acredito: é o “MANIFESTO – Mensageiros do
Vento”, cuja versão digital está disponível gratuitamente no site da banda (http://www.mensageirosdovento.com.br/Manifesto.html).
4- Fê: O
que você espera do Brasil, ou onde a situação em que vivemos nos levará?
Fabio: Vivemos em um momento de grandes e
rápidas transformações, não somente no Brasil, como no mundo inteiro e também
individualmente. É uma época sem precedentes, de fim de ciclo, de destruição
dos velhos valores para que novos valores e ideias possam surgir. É como se o
mundo inteiro estivesse em trabalho de parto, para o nascimento de algo novo. E
o nascimento não é nada pacífico. Considero nascer muito mais assustador que
morrer, é um ato de grande violência. É essa violência que estamos
testemunhando no Brasil e no mundo, em todos os níveis. Mas é justamente por
pressentir o nascimento do novo nessas convulsões que tenho muita fé no futuro.
Acredito que não será fácil a jornada, mas que estamos caminhando para um
Brasil e um mundo melhores que os atuais.
5- Fê: O
que os leitores podem esperar de seu segundo livro?
Fabio: Meu segundo livro solo já está
pronto, é um livro de contos intitulado “Isso Tudo É Muito Raro”, onde a
proposta básica foi escrever quatro pares de contos opostos e complementares.
Cada par de contos trata do mesmo tema, mas de forma completamente diferente um
do outro. O conto que dá nome ao livro, inclusive, traz os Olimpianos,
personagens de “O Sincronicídio”.
Meu próximo livro a ser publicado é
a antologia “RedruM: Contos de Crime e Morte”, que sairá dentro de alguns meses
pela Caligo Editora. Participo desse livro com a história “A Marca”, juntamente
com outros seis autores: Pedro Viana, José Geraldo Gouvêia, Bia Machado, Diogo
Bernadelli, Vitor Toledo e A. Z. Cordenonsi. Acredito que esse livro irá
agradar bastante os apreciadores de histórias clássicas de assassinato!
E atualmente estou escrevendo meu
segundo romance, chama-se “Favela Gótica”. Sobre esse livro, só posso dizer que
é o material mais forte que já escrevi. Sombra pouca é bobagem!
6- Fê: Como
teve a ideia de escrever sobre uma moeda com tamanho benefício sexual (risos!)?
Fabio: As moedas aparecem na história de
uma forma simbólica, metafórica... a grande questão não é tanto o benefício
sexual que elas proporcionam, mas o preço que elas cobram por isso. A ideia
surgiu a partir das pesquisas do grande cientista indiano, J. C. Bose, a
respeito da vida dos metais.
7- Fê: Como
foi a busca por uma editora?
Fabio: Foi longa e árdua. São muito raras
as editoras dispostas a investir em novos autores nacionais. Na grande maioria
das vezes, o autor estreante só consegue publicar arcando com os custos da
edição. Mas eu acredito que tudo que é bom e importante nessa vida dá trabalho,
e assim não desisti. E minha persistência foi premiada com juros, pois
considero a Caligo uma das melhores editoras que atuam hoje no Brasil. É uma
editora pequena ainda, mas que nasceu com um coração gigante, acreditando no
valor e na força da literatura brasileira. Todos que trabalham lá, trabalham
com amor. E tudo o que é feito com amor tem sucesso, inevitavelmente. Para o
alto e avante, Caligo!
8- Fê: Fale
um pouco de seus personagens de Sincronicídio.
Fabio: São todos muito queridos por mim,
inclusive e especialmente os vilões! Não saberia falar de cada um deles sem
revelar detalhes da história que prefiro que o leitor descubra por si mesmo ao
ler o livro. Posso dizer apenas que os personagens foram concebidos a partir do
seguinte mote: as bodas alquímicas de
Isaac e Agatha, com as bênçãos do Padre Hermann. Então os personagens fazem
muitas referências e homenagens a esses três autores que tanto amo: Isaac
Asimov, Agatha Christie e Hermann Hesse!
9- Fê: Futuro...
Fabio: Não me interesso muito pelo futuro,
tampouco pelo passado. Procuro viver o presente, estar no “aqui e agora” o
maior tempo possível. Parece uma bobagem o que acabo de dizer, mas muitas
pessoas que conheço vivem a maior parte do tempo ou no passado ou no futuro,
imersas em recordações dolorosas ou em temores e ansiedades pelo que virá.
Viver no presente não é tarefa fácil, é um grande desafio para a mente humana!
Como tudo o que é bom e importante, aliás! Pois viver o momento presente, para
mim, representa o caminho da verdadeira felicidade, o caminho de descoberta do
sentido da vida!
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Fê :*
Bom dia, Fê!
ResponderExcluirGosto muito de ler essas entrevistas, pois assim acabo conhecendo autores e livros que me captam muito a atenção. A entrevista está ótima, as respostas do autor são incríveis e me fizeram refletir. Acho maravilhoso ver como uma experiência difícil pode transformar uma pessoa e fazer com que ela crie algo bom, e é o que parece ter acontecido aqui. Espero conhecer a obra em breve, um abraço!
Oi Fê!
ResponderExcluirNão conhecia esse autor nem sua obra, mas adoro essas entrevistas que os autores dão aos blogueiros, porque assim fico sabendo de tantas e tantas histórias <3 Confesso que não me senti muito atraída pela história de "O Sincronicídio" (espero que eu tenha escrito certo), mas achei fascinante saber um pouco sobre como o autor chegou ao projeto final, e isso de a vida real se tornar livro vez ou outra é incrível. Sucesso para ele!
Beijos
Blog Procurei em Sonhos
Que entrevista interessante. Não conhecia o autor, mas conhecer um pouco sobre suas perspectivas sobre o mundo muito me agradou.
ResponderExcluirBeijos,
Nina & Suas Letras
Caramba! Fiquei super curiosa pra ler esse livro, como as próximas obras do autor. Achei o tema diferente (sei que pode embaralhar minha cabeça....rs), a capa diferente, e adoro livros com trilhas sonoras. Beijos Fê, parabéns pela entrevista.
ResponderExcluirEu não conhecia o autor nem ao livro, mas achei bastante interessante a entrevista :)
ResponderExcluirBeijos, Paradoxo Perfeito
Oi Fê! Não conhecia o autor, mas achei a entrevista bem legal e fiquei interessada no livro.
ResponderExcluirBom saber que a ideologia dele é o Amor e tem esperanças de um país melhor, algo um tanto raro nos dias atuais.
Gostei dele e da temática do livro!
Beijooos
Lara - Magia Literária
http://www.magialiteraria.com/
Oi Fe!
ResponderExcluirMuito boa sua entrevista é sempre bom conhecer um pouco mais dos escriotes!
Abraços....
literatura-para-o-saber.webnode.com
Oi Fê,
ResponderExcluirMuito boa a entrevista, gostei das respostas do autor, muito boas. Achei o livro bem interessante.
Beijinhos,
Rafaella Lima
Vamos Falar de Livros?
Nossa! Não sabia do autor e nem do livro e pude perceber que o livro é bastante intenso! Eu gostei do que tem escrito na foto. Que ele não gosta de matar um personagem logo depois de criado! Tem que deixar ele viver um pouco. Muito bom isso! bjs
ResponderExcluirhttp://www.horadaleitur.blogspot.com.br/
Oi Fê, tudo bem ?
ResponderExcluirEu não conhecia nem o livro nem o autor, achei muito interessante a sua entrevista com ele ♥
fiquei encantada com esse inicio de resposta, " Minha ideologia é o Amor. Minha religião é o Amor. Minha filosofia é o Amor." ele se mostrou um homem sensível e eu gosto disso.
beijinhos da Lêeh
e parabéns !
http://maetoescrevendo.blogspot.com.br
Menina , que respostas fortes em... o autor parece realmente ter escrito a história com todo o coração. Achei o título muito interessante.
ResponderExcluirBeijos.
seforasilva.blogspot.com
Oi Fê !
ResponderExcluirMuito Bom, vc tem um talento para essas coisas ! Sempre deixando os leitores mais pertinho dos autores, valorizando a literatura nacional !
Beijoos,
http://livrosmitologiaeromance.blogspot.com.br/
Fê!
ResponderExcluirSou suspeita para falar...
O Fabinho é meu amigo de muito tempo, mas falo não pela amizade, falo pela qualidade, inteligência e criatividade que ele imprimiu nesse enredo fantástico e maravilhoso no Sincronicídio. Não percam a leitura.
E a entrevista é leve e descontraída, como o amigo é, então, não tem como não ser boa.
Sabia que estou lá no livro? Atente quando o amigo faz os agradecimentos...kkkkk
Sucesso Fabinho!!
cheirinhos
Rudy
MTE-GRUPO NO FACE
Oi, Fê!
ResponderExcluirJá ouvi falar desse livro e a primeira vista já gostei hahaha bem legal saber mais sobre o autor, ajuda a dar um olhar mais aprofundado a obra, né?
Beijos
Devaneios Estrellares
Tenho que confessar que não conhecia esse livro nacional.
ResponderExcluirE olha que tenho divulgado bastante autores ultimamente.
Achei a capa do livro maravilhosa e agora vou assistir o video para ver se gosto da história.
E dar uma pesquisada, porque se for meu gênero de leitura, com certeza vai entrar pra minha lista. Eu adorei a entrevista também onde o autor coloca os pontos importantes sobre o livro. Achei bem interessante. Parabens pelo seu blog linda =] Já estou seguindo aqui viu? Poderia me retribuir também? Espero que possamos ser boas amigas. Bjokas
lovereadmybooks.blogspot.com.br
Bom dia!
ResponderExcluirQue entrevista fantástica!! Fabio Shiva se tornou minha inspiração após ler O Sincronicídio. Gosto muito do estilo da escrita dele e também das filosofias de vida. Ficou show!
Abraços
Olá Fe.
ResponderExcluirNão conhecia o autor e nem a obra, mas achei bem curiosa a história de vida dele e fique curiosa para saber que mistério foi esse que se abateu sobre sua vida.
Vou procurar conhecer o livro dele.
Beijos
Oi Fê, tudo bem?
ResponderExcluirNossa, acho que essa foi a entrevista mais intensa que eu já li. O livro desse autor promete. Fiquei muito interessada, não sei se vou gostar ou não da história em si, mas as ideias, a experiência de vida, as metáforas, nossa tudo, dever ser muito bom.
Mais um autor nacional incrível que eu quero conhecer.
Sucesso par ao autor. excelente entrevista.
beijinhos.
cila-leitora voraz
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/
Olá Fê,
ResponderExcluirNão conhecia o autor e nem o livro, gostei muito da entrevista e vejo o quão difícil foram as coisas para o autor, mas espero ler uma resenha para avaliar melhor sua obra...abraços.
devoradordeletras.blogspot.com.br
Muito grato por essa linda força e pelos carinhosos comentários!
ResponderExcluirViva a literatura brasileira!