[Devaneios da Sol] Prazer, sou um psicopata por Soraya Abuchaim

10:41 Fernanda Bizerra 15 Comments

***Escrevi esse conto há um bom tempo. A ideia era enviá-lo para uma antologia de terror, mas acabei enviando outro e esse ficou perdido. Encontrei-o por acaso, e aqui está! Confesso que me assustei ao lê-lo, não lembrava que estava tão “inspirada” na época hahaha. Espero que gostem desse gênero!***

O mesmo pesadelo de sempre me acordou: sangue por todos os cantos, o medo estampado na cara da vítima. E a minha vitória após concluir o serviço a que me dispunha, mais uma vez. Eu era o algoz, e isso por si só me deixava contente.
Perdi as contas de quantas noites nos últimos meses fui acordado pelo sobressalto da cena rubra. Como se me importasse com aquilo. O que está feito, está feito, simplesmente.
A mente humana pode ser cruel, mas não a minha. A minha é apenas diferente e sagaz.
A vingança é um prato que se come frio, dizem por aí. Mas eu prefiro nem deixar esfriar, porque na realidade nunca foi por vingança, foi por puro prazer.
Talvez para algumas pessoas, o medo sirva como uma válvula de arranque, fazendo com que o corpo reaja e tenha atitudes inimagináveis quando estão em uma situação de perigo iminente.
Para mim, é justamente o contrário: o medo me atrai, de uma maneira que não consigo explicar.
Comecei a me sentir diferente aos 9 anos de idade. Enquanto a maioria dos meninos da minha idade brincava de carrinho, corrida e similares, meu passatempo preferido era matar pequenos animais.
Sei que parece uma atitude de curiosidade humana de um ser que ainda está se desenvolvendo, mas os anos passaram e essa curiosidade somente aumentou.
Adoro a cor do sangue, os gritos e grunhidos de alguém – ou algo – sendo torturado e destruído, os pedaços de carne pelo chão… Até que eu me sinta com fome o suficiente para comer os restos mortais.
Meus pais logo cedo perceberam que havia algo errado, mas julgaram ser apenas uma deficiência de comportamento social, parcialmente aceitável para aqueles que não têm a mínima vontade de conviver com o estranho.
Não os culpo. Odeio gente, sempre odiei.
Mas não pensem que foi o ódio que me motivou a matar (não gosto dessa palavra, prefiro dizer que está associada à diversão). Não. Acho que eu simplesmente nasci com essa vontade mórbida de fazer sofrer.
Na adolescência eu não era um psicopata – ainda. E também não era o clichê de garoto solitário. Sempre fui bonito. O que contrastava com a feiura que habitava minha mente.
Mas as garotas não me atraíam. Pelo menos não da forma sexual, porque quando me deparava com alguma delas, a vontade de vê-la morta e destroçada em meus braços fazia a excitação quase me deixar sem controle.
Matei o primeiro ser humano com 14 anos. E foi a melhor sensação do mundo, quase melhor que um orgasmo.
E não parei mais.
Se já fui pego pela polícia? Nunca. Sempre mudo o meu modus operandi e como adoro degustar a carne das vítimas, sobra muito pouco para ser enterrado em meu quintal, a muitos pés abaixo da terra.
Hoje moro em uma fazenda herdada pela minha família, após o falecimento de meus pais – não, não os matei. E sim, com essa perda eu sofri. Isso facilita sobremaneira a ocultação dos restos mortais.
Como qualquer psicopata (hoje posso assim ser classificado), tenho minha sala de operações, mas que em nada se parece com um laboratório macabro de filme de terror.
Afora as marcas de sangue que não consigo remover, ele é bem organizado e sem nenhum equipamento de tortura à mostra.
Já matei mais de 120 pessoas ao longo da minha vida, sem nenhum remorso. Para mim é a coisa mais natural do mundo, afinal, os seres humanos tem maneiras pouco convencionais de saciar os próprios desejos, e não acho que a tortura física que imponho seja muito diferente da tortura psicológica e moral que muitas pessoas sofrem e nem percebem. Só que as minhas vítimas morrem mais rápido, enquanto muitas definham pela vida medíocre.
Hoje estou velho, a saúde debilitada, e esses malditos pesadelos atormentando minhas noites. Só consigo ver sangue.
Que ironia, o mesmo sangue que tanto me satisfez. Mas não me preocupo. Talvez seja o prelúdio do que me espera do outro lado, se é que existe outro lado para alguém como eu.
Essa é minha história. Nunca antes contada com tamanha franqueza.
Prazer, sou um psicopata.






Até a próxima!




Siga o blog nas redes sociais:

15 comentários:

  1. Ola lindona amei o texto, e temas como esse sempre despertam interesse afinal conhecer a mente de um psicopata e tentar entender sua frieza é algo que muitas tentam. Parabéns pelo conto ficou ótimo, pena que não foi publicado. beijos

    Joyce
    www.livrosencantos.com

    ResponderExcluir
  2. UAU!
    Adoro contos, principalmente os de horro/terror, principalmente com psicopatas, e o seu ficou simplesmente incrível!
    A forma como montou ele, contando da infância até a velhice, e a frieza dele, tudo, tudo ficou incrível, parabéns, você escreve muito bem.
    Tente enviar de uma próxima vez, ficou realmente muito bom!
    Beijos!

    ResponderExcluir
  3. Oi, flor.
    Eu gostei do texto, mas não tanto quanto os demais que escreveu. Não sei, achei um tanto óbvio. É o estereótipo do psicopata assassino e, embora ele exista, acho mais bacana dar enfoque sobre o psicopata velado (aquele que mal notamos, mas com quem convivemos). Recentemente, li uma notícia sobre um adolescente de 17 que estuprou e matou a própria irmã, de 12. A mãe dele estava atormentada pelo ocorrido e, quando foi vê-lo, ele lhe perguntou se queria sexo. Sem remorso, assumiu a culpa pelo crime apenas depois que a polícia o pressionou com uma prova. Contou em detalhes tudo o que fez e disse que, na verdade, estuprara a irmã pela primeira vez quando ela tinha apenas 9. Enfim, flor, esse é um exemplo típico de sociopatia, mas sabe o que a mãe disse à repórter? "É difícil falar disso, mas acho que meu filho é um maníaco sexual". Não, minha senhora, queria poder dizer, ele é mesmo um psicopata.
    Enfim, flor, gostei do conto e espero ver algo do gênero mais vezes (rs).

    Beijos!
    http://www.myqueenside.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Francine!!! Obrigada pelo comentário :)
      Esse conto era para ser óbvio mesmo rsrsrs
      Mas gostei da sua ideia, inclusive estou escrevendo um para uma antologia (espero que saia logo) que tratará justamente disso: aquela pessoa acima de qualquer suspeita que esconde segredos terríveis.

      Beijinhos!

      Excluir
  4. Adorei o conto, parabéns! Acho fascinante a temática "psicopata" e me interesso em tentar conhecer um pouco mais como funciona a mente de pessoas assim...

    Beijos!
    albumdeleitura.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  5. Eu gosto bastante de assuntos/textos/filmes que envolvem a psicopatia ou serial killers, ou seja, amei o seu conto! Não é algo forçado, algo fora da realidade e barato, querendo apenas impressionar, mas o relato honesto de um psicopata. Gostei bastante dessa pegada que você deu ao conto, mesmo!

    Abraços,
    http://claqueteliteraria.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Oiee ^^
    Arrepiou...haha' morro de medo de encontrar um psicopata, e fico imaginando se isso já não aconteceu em algum momento da minha vida. Espero que não *-* Adorei o seu conto, achei muito interessante (e um pouco assustador, não dá para negar) haha'
    MilkMilks
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  7. Há... adorei o texto... super legal como o próprio psicopata se descreveu haha.... fiquei bem presa no texto, poderia ter durado um pouquinho mais... não sou tão crítica, ou não ei visualizar bem um texto, mas achei incrível desde o começo....adoro um terror... e quando fico com medo ao ler algo do tipo... e nesse eu senti... Xero!!

    http://minhasescriturasdih.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  8. Oii, tudo bem?
    Eu adorei esse texto! Eu nunca tinha lido nada igual e achei bem legal ver as coisas pelo outro angulo.

    ResponderExcluir
  9. Oii!

    Nossa! Parabéns! Você tem muito talento :) Amei o seu texto e adoro terror!

    Beijos, Amanda
    www.vicio-de-leitura.com

    ResponderExcluir
  10. Muito obrigada a todos! Vocês me motivam a continuar :)

    Beijos

    ResponderExcluir
  11. Adorei seu conto! Você tem muito talento! Deveria publica-lo pois tenho certeza que todos adorariam ler ^^

    ResponderExcluir
  12. Olá!
    Esse conto é bem tenso, mas gostei do enredo.
    Parabéns pela bela escrita.
    Beijinhos!
    http://eraumavezolivro.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  13. Olá, tudo bem?

    Confesso que comecei a leitura com um pé atrás, pois evito ler congos de terror - apesar de que aundo começo a ler me prende, mas sou daquelas que tem pesadelos depois. Kkkkk

    Mas, ao terminar de ler, foi tranquilo. Vi como um relato, desabafo. Sem nenhuma descrição de ação macabra e tals, gostei muito do texto e de sua escrita clara e direta. Parabéns pelo conto!

    Beijo!

    ResponderExcluir
  14. Oi, tudo bem?
    Gostei bastante do conto. Sou fascinada por psicopatas hahaha!
    Bjs

    A. Libri

    ResponderExcluir