[Devaneios da Sol] Tragédia - Soraya Abuchaim

00:00 Fernanda Bizerra 6 Comments


À beira do lago ela se encontrava estática, olhando a água calma e escura, que tem a pretensão de esconder os mistérios menos plausíveis e mais imaginados.

A água tem esse poder - trazer à mente pensamentos tão diversificados quanto interessantes, tão assustadores quanto tranquilos. Uma dualidade de sensações que nos fazem literalmente ser transportados por um simples olhar direto e fixo.

Ela agora está pensando sobre o que já se foi, claro. Como é fácil sermos levados para o passado quando estamos perdidos no presente. O futuro pode até nos ocorrer, com uma urgência de tomada de decisão, mas o que mais claramente vislumbramos são vestígios de tempos remotos, distantes ou não.
O passado nem sempre traz a ela boas lembranças. Os momentos felizes teimam em desaparecer da mente quando esta é tomada pelas suas pequenas tragédias pessoais.

Tudo bem, a palavra tragédia pode ser um pouco exagerada, mas quem nunca imaginou possuir os maiores problemas do mundo?

E é justamente nessa ideia que ela se fia.

Suas tragédias pessoais tiveram várias origens, mas a que mais a abalou, como qualquer ser humano previsível, foi aquela de origem amorosa.

Não havia sido traída... essa ação teria sido muito mais honrosa do que a que tomou conta do seu cônjuge naquele período negro, como ela gosta de chamar.

O coração das pessoas é absolutamente mutável, e se coincidir de um coração mudar em desacordo com interesses anteriores, a chance desse coração desistir da caminhada é grande.

Mas é suportável.

O que não pode ser superada é a mudança do coração aliada a qualquer humilhação imposta a uma das partes.

E foi isso que começou a ocorrer, aos poucos, destruindo toda a imagem linda que ela construiu a respeito dele.

De onde as humilhações vieram não se explica. A estranheza do contato, o afastamento, e a vergonha.

Ela achou que o problema fosse dela própria. Mas não. Deveria então haver outra pessoa.
Nada indicava. O amor havia acabado e ele, sem saber lidar com aquilo, não percebeu o quanto a arruinou.

Ela não teve coragem de virar as costas. Suportou tudo - inclusive ameaças físicas - achando que ele melhoraria.

Mas nada aconteceu, e tudo se tornou obscuro.
Até que um acidente o tirou de seu caminho.

E enquanto as pessoas imaginavam quanta dor ela sentia pela perda do ser amado, ela já havia sentido a maior parte da dor, e agora somente experienciava a silenciosa vontade de refazer a vida e um certo alívio.

Nunca desconfiariam... Mas hoje, olhando o lago, ela se pergunta a que preço?



Sol

Beijos!

6 comentários:

  1. Parece que escreveu esse texto pra mim!
    Essas situações acontecem tanto hoje em dia, e é tão triste como o objetivo e os sentimentos das pessoas mudam tão rápido!
    Mas isso também no ensina lições preciosas..

    Beijos

    Raíssa Martins - O Outro Lado da Raposa
    Facebook
    Twitter

    ResponderExcluir
  2. Adorei o texto realmente inspirador e reflexivo!

    Beijos Joi Cardoso
    Estante Diagonal

    ResponderExcluir
  3. Oi Sol,
    Parabéns pelo texto..
    Infelizmente, as lembranças quanto mais negativas são, são mais difíceis de enterrar.
    Até mesmo a saudade pode ser negativa para a gente =/

    bjs
    Nana - Obsession Valley

    ResponderExcluir
  4. Eu como seu fã, Soraya, sou suspeito. Adoro seus textos. Você escreve de um jeito que prende! Simplesmente demaaais, amei *---*
    Beijos do Rudolf

    ResponderExcluir
  5. Bom dia,

    Mais um belo texto, espero que continue assim, tem talento de sobra...abraço.

    devoradordeletras.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  6. Oláá!
    que texto!! uau!
    acho que as lembranças são algo que mesmo nos fazendo sofrer, nos ensinam e nos fazer crescer!
    e é triste ver que hoje em dia os sentimentos e objetivosmudam tão rápido... são voláááteis!

    Um beeijo Lara.
    Blog Meus Mundos no Mundo | | Página Coração Furta-Cor

    ResponderExcluir