A mensagem “não lida” nas histórias de grande sucesso - Fábio Abreu

06:00 Fernanda Bizerra 15 Comments


    É notório ver em grandes best-sellers muitas referências que marcaram a vida de seus autores. Em alguns se percebe isso tão claramente como uma biografia, fato que, nem sempre tais referências, são exatamente biográficas, mas sim mensagens que os seus respectivos criadores querem enviar a seus leitores e quem mais suas criações alcançarem.

    Hoje falarei de uma das séries mais comentadas do momento e de alguns detalhes que talvez tenham passado despercebidos pelo leitor que, entregue a excelente trama que a leitura oferece, não se atentou. Na verdade, um em especial:

    Trilogia Jogos Vorazes de Suzanne Collins.




Os três livros da autora (Jogos Vorazes – Em Chamas – Esperança) são repletos de simbologias e citações. Algumas com mais de um sentido, mas com temas atuais. Farei a seguir algumas citações:




    A monopolização de recursos – A Capital, principal cidade de Panen, é claramente símbolo das grandes potências mundiais que de forma diplomática (não na história) exploram nações menores, minando seus recursos. Sejam estes naturais ou mesmo a mão de obra, muitas vezes exercidas sob condições impróprias e com salários ínfimos pelos serviços prestados.

    As rebeliões dos distritos menos valorizados – Não precisamos ir muito longe para ver uma realidade que aflige nosso próprio país que Suzanne abordou de maneira muito crítica em seus livros. Quando uma classe social, dita menor ou menos importante, se vê acuada e sem caminhos para contornar certas situações só lhes resta lutar. A autora mostra abertamente seu apoio a causas do tipo quando exalta uma protagonista que se identifica com a necessidade de seu “povo”, sua família e luta – a sua maneira - para mudar isso. Ok! Katniss está longe de ser uma mártir, mas a mensagem passada pelo Tordo da esperança é essa.

    Tendências – é uma realidade que as maiores nações e grandes massas seguem tendências. Uma leve crítica foi deixada pela autora nas passagens pela Capital ao decorrer da história. Com forte destaque para a “futilidade” que é gerada por tal comportamento. Seja em “modus vivendi”, roupas ou cabelos.

    Estas são apenas algumas das muitas referências que encontramos nessa história. As da capa, por exemplo, dariam uma matéria inteira. Agora, dando foco ao assunto que escolhi e, tenha certeza, que poucos atentaram profundamente – por ser considerado de certa maneira, banal – os cabelos.




    Em toda trilogia, com mais ênfase nos moradores da Capital, o cabelo bem arrumado ou extremamente extravagante parece um status social. Exemplos disso na história são os belos penteados de Effie Trinket e Caesar Flickerman. Seria algo que pode defini-los como pessoas na sociedade em que vivem. E isso é fato, para algumas realidades que conhecemos.

    Veremos em especial o cabelo de Katniss. A famosa trança da valente protagonista pode não aparentar nada além de uma maneira prática para prender seus cabelos, mas olhando com certa atenção, notaremos traços de seu comportamento que podem dizer algo mais sobre ela e seu suposto penteado.
    Durante a história ela sempre o mantém na trança. Quando se declarou voluntária para os jogos, sua estadia na Capital incluiu tratamento de sua imagem, e alguns penteados lhe foram feitos. Contudo, notem que ao entrar na arena, tudo que fez foi voltar a usar a trança, ou seja, assumiu sua própria essência e não a pessoa que eles quiseram mostrar com toda aquela “pompa”.

Vejamos o que a história diz sobre isso:

Egito antigo            
    Todos têm em mente a imagem de uma Cleópatra cheia de tranças. De fato, a rainha amava separar suas madeixas com bijoux, fios de ouro, e até extensões. Reveladora de status social, o penteado aparecia sempre de forma bem elaborada. Ter muitas tranças era um sinal de riqueza.
Império Romano
    Durante esse período, as mulheres tinham o hábito de usar o alto da cabeça cacheado, e depois trançar os fios de forma arredondada, em pequenos grupos. Assim como no Egito Antigo, a qualidade do penteado era um sinal também de status.
Celtas
    A imagem que mantemos dos celtas é aquela de loiros com cabelos longos com uma meia trança. A classe média usava o penteado dessa forma graças à sua praticidade, enquanto a classe alta usava tranças mais elaboradas e complicadas.


Idade-média
    Na época medieval, as tranças eram um grande clássico dos penteados, embora as mulheres tivessem que usar toucas para esconder seus cabelos, sob pena de serem consideradas bruxas. E por motivos de submissão.



    Em certas civilizações antigas e algumas religiões o cabelo era considerado uma parte íntima da mulher, assim deveriam mantê-lo sempre trançado e sob proteção de tecidos, lenços ou toucas. Era um sinal também de submissão, não só diante de maridos e pais, mas também da sociedade.
    Com os passar dos anos muito dessa cultura machista e retrograda sofreu uma morfose e assim, o que era considerado proibido, ou errado, tornou-se um símbolo de força e impetuosidade feminina.
    A trança da personagem Katniss no decorrer do segundo livro inspirou as mulheres da Capital, e até mesmo a neta do famigerado Presidente Snow se rendeu ao penteado. Este, a partir daquele momento, deixou (na história) de ser apenas um penteado, para se tornar um símbolo de força, independência e coragem.
   Suzanne conseguiu, com extrema sutileza, deixar mais um recado incutido em sua magnífica história. As aparências às vezes enganam e jamais julgue um livro pela capa.
   Para os fãs de JOGOS VORAZES, deixo um link para fazer o teste criado pela Revista Veja.
É interessante saber até onde vai o seu conhecimento sobre esta incrível história.
Aqui: http://veja.abril.com.br/infograficos/jogos-vorazes/jogo-mapa/



     Neste caso eu diria, nunca menospreze uma garota de trança. Ela pode acertar uma flechada (digo, um tapa! rs) em você!
Obrigado pela leitura e até a próxima!

15 comentários:

  1. Bem legal a postagem com essas notas explicativas, mas nunca li Jogos Vorazes e fiquei um pouco perdida... mas conheço uma pessoa que é super, hiper, mega fã dessa série e recomendarei a matéria para ela ler. Beijos!!

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  2. Nossa, realmente eu não tinha notado isso. Jogos Vorazes é repleto de coisas que vão além dos clichês de romances juvenis e merece todo reconhecimento que está tendo

    http://pequenamiia.blogspot.com.br/

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  3. Ótimo texto! Eu até tinha percebido algo relacionado a isso, mas (como sempre) achei que estava pensando demais. É bom saber que até mesmo os autores de fantasia retratam um pouco do mundo do que os cerca. Jogos Vorazes é demais!

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  4. Ainda não li Jogos Vorazes (um dia leio ahushusahuas), mas não vou mentir: essa história das tranças e tal fez eu me sentir aqui quando lembrei que desde pequena já sabia fazer tranças em mim mesma haushsaasu Realmente, é algo interessante ;)

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  5. Eu já tinha reconhecido essas e algumas outras mensagens passadas pela autora nesse livro, por isso acho o máximo esse livro e está entre os meus favoritos, além de ter uma história impressionante e original.

    memorias-de-leitura.blogspot.com

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  6. Amei o texto irmão,
    Terminei a trilogia semana passada. Ainda estou com aquele sentimento de vazio, mesmo relendo a sétima torre

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  7. Fiquei impressionada com o texto Fábio,super bem escrito e mega interessante,realmente não tinha me atentado para nenhum desses detalhes....

    Já li os 3 livros,mas me deu vontade de ler mais uma vez,agora com olhos mais atentos....

    ADOREI!!!

    Bjsss

    Bianca

    ApaixonadasporLivros

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  8. Foi isso que adorei em Jogos Vorazes desde a primeira vez que li. Peguei ele esperando mais um romancezinho juvenil e acabei me deparando com uma obra repleta de conteúdo e disposta a fazer uma corajosa crítica à sociedade atual. Panem é uma distopia, mas na verdade não passa de uma metáfora do mundo atual.

    Ótimo texto Fábio, me lembrou a crítica do Omelete para o 1º filme da série (http://omelete.uol.com.br/jogos-vorazes-hunger-games/cinema/jogos-vorazes-critica/). É sempre bom ensinar as pessoas a ler mais profundamente e com senso crítico.

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  9. Eu adoro Jogos Vorazes... É realmente fascinante.

    Quando puder, faça uma visita lá no blog, eu adoro receber novos amigos (as)! Abraços e aqui vai uma promoção para você participar! Meus sinceros votos de boas festas e felicidades!

    http://ladomalucadeser.blogspot.com.br/2013/12/promocao-boas-festas.html#more

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  10. Ah, quantas curiosidades!
    Já sabia da crítica à sociedade... Mas o resto... Não fazia ideia!
    Adorei saber sobre a trança!
    Beijos,
    Ana M.
    http://addictiononbooks.blogspot.com.br/

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  11. Oi,

    muito legal o post! Sou nem um pouco fã de Jogos Vorazes, odeio a protagonista, mas a autora realmente criou um universo interessante, que mesmo fictício, fala muito sobre o mundo real. E isso que mais gosto em distopias!

    Bjs

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  12. Fábio, você é ótimo!!!!
    Adorei a postagem, simplesmente!
    Muita informação e reflexão!
    Parabéns!
    Beijos

    Meu Meio Devaneio

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  13. Que legal! Não sabia a importância dos cabelos na historia. Adorei! Como sempre me surpreendendo, Fábio. Beijos e obrigada pelas informações. Vou assisti ao filme com outros olhos.

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  14. Adorei o post! Reparei em alguns desses itens durante minha leitura, realmente acho que THG merece toda a fama que tem, afinal vai muito além de uma história adolescente. Beijo!
    http://booksmanybooks.blogspot.com.br/

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  15. Olá! Voltei aqui pq te indiquei para uma TAG lá no meu blog, não sei se vc já está participando, ou msmo se gosta disso, mas está lá, dê uma olhadinha:http://booksmanybooks.blogspot.com.br/2013/12/tag-11-coisas.html
    Beijo, espero que goste, e se possível que participe!

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