[Devaneios da Sol] Você também vai envelhecer - Soraya Abuchaim

09:17 Fernanda Bizerra 7 Comments



“A cena é conhecida... Uma velhice de amor, compreensão, passeando juntos à beira-mar, após uma vivência plena, onde tudo foram flores - embora algumas brigas tenham permeado pequenos fragmentos momentâneos, insignificantes perto da grandeza desse amor...

E então... Ela abre os olhos e se pega sozinha, em sua cama enorme e gelada.
Pesadelos frequentes, de um futuro que ela, acordada, jamais imaginou. 

E fazendo uma análise profunda da sua vida, percebeu que se tornara intolerante consigo, um espectro da mulher alegre que sempre fora.

Começou imaginando atitudes do seu companheiro que não correspondiam à realidade, não aceitando, em hipótese alguma, que ele envelhecia, que ele se tornara uma pessoa diferente do que ela conheceu quando casou.

Aos poucos, seu brilho foi-se apagando, e o companheiro sem entender exatamente o que se passava, afinal, ele não mudara - ou achava que não havia mudado - tanto a ponto de ser um estranho para ela.

A situação tornou-se insustentável. Sentindo-se abandonada, culpou seu companheiro por tê-la deixado de lado, por não ter dado a atenção que ela realmente merecia... Quando a verdadeira culpa estava nela, no fato de nunca ter aceitado que ela também envelhecera...

E se tornara igualmente ranzinza, exigente, mandona talvez... Alguns hábitos ruins se acentuaram, as rugas apareceram e a gravidade também nela fez efeito.

Mas ela cismou em enxergar apenas os anos passados nele, achando que em si, nada mudaria.
Essa é a velha mania das pessoas - enxergar apenas nos outros os próprios defeitos.

E assim, estava fadada a ficar só, até que, renovada com a ideia de que ela também havia mudado, percebeu como o tempo também tinha agido em si, e chegou à conclusão de que havia sido de uma maneira perfeita. Que o tempo jamais passaria deixando alguém desamparado. Ele vem lento, dando-nos a chance da adaptação.

Mas para ele já era tarde... Ela não havia aproveitado a oportunidade quando a teve. Ele fora embora para sempre... E nela ficou a saudade e a vontade de ter feito diferente.”

Quantas vezes não damos valor às coisas apenas quando as perdemos, por puro orgulho, por achar que estamos sempre certos, por não querer enxergar a verdade que se desdobra em nossa frente?

Que possamos reconhecer nossos erros quando ainda é tempo, que possamos ver em nós tudo o que criticamos nos outros, colocando-nos no lugar de quem nos observa.

E assim, poderemos ter a plena certeza de que fizemos tudo o que nos competia no quesito relacionamento, deixando para a vida o seu desfecho, com a consciência tranquila.

7 comentários:

  1. Adorei a história. Esse é um tema clássico e verdadeiro.

    Bjs.
    http://arianaviajante.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Nunca me cansarei de agradecer esse espaço.
    Beijos e Feliz Ano novo, amiga linda!

    Meu Meio Devaneio

    ResponderExcluir
  3. Lindo!! É pra chorar no último dia?? rsrs
    Adorei!!!! Parabéns!!
    Vou desejar uma coisa bem egoísta agora: Espero que em 2014 você tenha muita inspiração para trazer mais textos assim como este pra nós!!

    Feliz ano novo!!

    Bjkas

    Lelê Tapias
    http://topensandoemler.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  4. Que texto maravilhoso. Haja inspiração nesse fim de ano.
    Que 2014 seja repleto de paz, amor, saúde e felicidade. Que você tenha leituras maravilhosas!

    ResponderExcluir
  5. Texto lindo!

    memorias-de-leitura.blogspot.com

    ResponderExcluir
  6. Muito lindo esse texto, gostei do que foi escrito.
    Feliz Ano Novo.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

    ResponderExcluir