Bobók e o Mundo dos Mortos por Ana Faria

00:00 Fernanda Bizerra 13 Comments



Em Bobók (1873), o autor Fiódor Dostoiévski apresenta uma crítica aos críticos de sua obra. Faz uma análise também da sociedade russa em que vivia, através de um conto que consegue ser engraçado mesmo que a maior parte de seus personagens esteja morta. Sim, alguns personagens estão mortos! O texto se desenvolve na forma de narrativa em primeira pessoa de Ivan Ivánitch, que tem o ofício de escritor e tradutor e vai ao enterro de um parente distante para cumprir a convenção social. Começa a observar o cenário e o comportamento das pessoas e demora-se por lá, por isso acaba se deitando em um bloco de pedra. Meio sonolento, ele começa a ouvir uma conversa abafada e quando aguça os ouvidos para compreender melhor o que as pessoas diziam, surpreende-se com o diálogo dos mortos enterrados por ali há menos de um ano.

Alguns já têm clareza de que estão mortos, outros ainda estão despertando, ainda confusos. De toda forma a conversa inicia entre dois homens e aos poucos, outros homens e mulheres vão se agregando, formando uma confraria. O diálogo vai se desenvolvendo até quase atingir seu clímax, que é interrompido pelo espirro de Ivan Ivánitch no “andar de cima”, o que faz com que os defuntos se calem. Estavam dispostos a contarem suas histórias sem mentiras, sem esconder os podres, a fim de rir e aproveitar os últimos meses de consciência. Um deles afirma que vida e mentira são sinônimos. Agora que estão mortos, não precisam mais mentir sobre nada, não precisam se envergonhar de mais nada. Podem se despir completamente de toda roupa e moral. Não há arrependimento.

Quando a conversa é interrompida, o narrador sai desatinado, determinado a voltar para ouvir o restante daquela balbúrdia. E está impressionado. Não consegue compreender como pode haver perversão em um lugar como este. Mesmo após a morte ainda querem viver como antes ou ainda pior. “Isto eu não posso admitir...”, ele diz.


O que impressiona é exatamente isso. Como os mortos estão ainda presos à vida terrena e como a perversão ainda impregna o caráter deles a ponto de não se preocuparem com os erros do passado, com os entes que deixaram órfãos, com o futuro ou o juízo que os aguarda. Organizam-se de modo a aproveitar o pouco de vida e consciência que lhes restam para rir, se divertir e se dar ao prazer. Nada disso é digno de ser eterno e se assim for, o fim será mesmo definitivo.

O autor e teólogo C. S. Lewis explica em seu livro Os Quatro Amores, e em outras de suas obras, que só o que foi tocado e transformado pelo Amor Absoluto tem esperança na eternidade. Se a transformação de mente e coração não se inicia na vida terrena, fica difícil alguma transformação nos atingir após a morte. A promessa de perfeição não nos foi dada nesse momento e sim num futuro apocalíptico. Contudo é possível, como Francis A. Schaeffer defende em sua obra “Verdadeira Espiritualidade”, de momento em momento, ou de glória em glória como disse o apóstolo Paulo, através da conformação de nossas mentes e coração à pessoa e exemplo de Jesus Cristo, nos tornar seres humanos melhores, mais próximos à imagem e semelhança de Deus como fomos criados originalmente para ser. Aí sim teremos algo que valha à pena ser eterno. 








Ana Faria

Facebook - Livro: Um Ano Bom

13 comentários:

  1. Amiga eu gostei bastante de tudo que você falou sobre o livro, mas eu sinceramente não foi um livro que me chamou atenção. Eu acho que no momento não pegaria para ler, mas mesmo assim desejo muito sucesso para a escritora e espero que seu livro agrade outros leitores.

    http://lovereadmybooks.blogspot.com.br/2015/07/resenha-costureira.html

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  2. Oi Fê!

    Eu com toda certeza não vou ler esse livro... kkkkk Como assim ficar ouvindo os mortos? O.o Quero não... kkkk
    Falando sério agora, apesar da história se mostrar muito interessante e intrigante também, não é o tipo de leitura que eu faria. Não me agradou muito. =S
    Bjus
    Juh - Surtos da Juleka

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  3. Oiee ^^
    Não conhecia esse livro, mas parece ser interessante. Achei engraçado o fato de Ivan ouvir os mortos, mas as histórias que os mortos têm para contar devem ser incríveis. Cada um deve ter seus segredos, saudades e coisas do tipo, e como eu sou curiosa com essas coisas, fiquei curiosa para ler...haha' ♥
    MilkMilks
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br

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  4. Olá!
    As edições da editora 34 são fantásticas. Uma vez eu tive que apresentar um trabalho sobre as edições deles e fiquei babando enquanto olhava tudo no Google. Infelizmente, essa é uma obra que eu não compraria por causa da história, somente por causa da edição.

    http://loucurasaovento.blogspot.com.br/

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  5. Oi, Ana.
    Confesso que não havia tido vontade de ler Dostoievski até hoje.
    Eu achava que seria maçante, mas pelo menos pela sua resenha, parece algo que eu leria.

    Beijos

    Meu Meio Devaneio

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  6. Oii!

    Não conhecia o livro, mas confesso que fiquei bem curiosa. A história parece ser bem interessante, talvez eu leia em breve ^^
    Parabéns pela resenha!

    Beijos, Amanda
    www.vicio-de-leitura.com

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Olá, tudo bem?

    Não conhecia nem o autor e nem o livro. Então, realmente o livro não faz o meu estilo literário e ainda que sua resenha seja positiva, confesso que não me despertou o interesse pela história. O lance de ouvir os mortos, enfim, não me deixou muito cativada, não. rs Parabéns pela resenha!

    Beijo!
    Ana.

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  9. Oii,
    Sou louca para ler "O Idiota" e fico muito feliz em ler resenhas do autor!
    Vivi
    Corujas de Biblioteca

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  10. Oii, tudo bem?
    Eu não conhecia o livro ainda, mas me interessei muito pela historia, pois ela parece ser algo que a gente não costuma ver muito em livros, com certeza já está na minha lista de desejados.

    www.fonte-da-leitura.blogspot.com.br

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  11. Oie, tudo bom?
    Eu sou doida para ler Dostoiévski mas nunca parei e peguei um livro dele de verdade para ler *shame*
    Fiquei super empolgada com a trama desse livro e agora já quero ler pra ontem! Essa questão de mortos que não sabem que estão mortos dá tanto dramas, quanto comédias, quanto críticas das mais variadas. Super interessante mesmo!
    Beijão
    http://www.sarahmarques.com.br/

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  12. Olá!
    Não conhecia essa editora mas lendo agora que tem mortos quero ler não rsrs
    Não me chamou a tenção sabe
    Mas adorei sua resenha
    bjs

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  13. Oii,
    Achei sua resenha ótima, bem explicativa e desperta vontade de ler o livro. Eu li Crime e Castigo e gostei bastante.
    Dostoièvski sempre desperta interesse , pois ele sabia fazer critica muito bem fundamentadas e era um escritor e tanto né, sua escrita encanto o leitor.

    Beijos
    Aline Lima
    Sempre Nerd (http://alinenerd.blogspot.com.br/)

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