Resenha: A Forma da Água por Guillermo Del Toro

12:46 Fernanda Bizerra 0 Comments


Olá Catarina´s (os)! Olha que o primeiro semestre do curso de Letras foi super proveitoso. A professora Vera Lúcia é uma grande apreciadora da literatura, por isso, tenho tanto para dividir com vocês!

O filme A Forma da Água (The Shape of Water) do mexicano Guillermo Del Toro, nos conta uma fábula envolvendo uma humana e um anfíbio, ou seja, a forma. A trama se passa nos anos 1960 no auge da Guerra Fria, o que traz grandes desconfianças, pois a qualquer momento alguém pode tornar-se um traidor. É neste cenário que conhecemos Eliza, que trabalha como faxineira em uma base militar e em consequência disto conhece o tal monstro e acaba criando uma relação com ele.

Eliza é muda e parece muito reservada, porém é uma moça além de sua época. Ela é ousada quando dá prazer para si, e nestas cenas, percebemos que Guillermo faz referência ao poder feminino, ou seja, que tem tanta liberdade quanto o sexo oposto. Justamente por possuir tamanha ousadia, ela começa a construir uma relação com o monstro da água e como ambos não falam a personagem usa de vários mecanismos para uma aproximação, seja ela com música ou mesmo com o barulho que faz com os ovos cozidos.

O cenário é de ficção cientifica, no entanto vai além, afinal temos aqui um conto de fadas, uma história de amor entre dois seres diferentes, contudo tão iguais, como a própria Eliza cita em determinado ponto do filme que o mostro é mais parecido com ela do que qualquer humano. Ambos não falam, não têm família e são hostilizados pelos outros, são vistos como aberrações da natureza e por essas questões a relação entre eles cresce diariamente até o ponto de ela tramar um salvamento.


Contudo, vendo o enredo de forma crítica, encontramos os elementos de clássicos já consagrados há muito na história cinematográfica. Essencialmente, percebemos durante as cenas traços de filmes como A Bela e Fera (1740) de Gabrielle-Suzanne Babot.

Guillermo também se inspira na obra de 1954 O Monstro da Lagoa Negra de Jack Arnold, porém a mocinha não fica com seu monstro e o autor quer mostrar com sua referência que tudo é possível quando se trata de uma fábula. Já para percebemos essas referências, precisamos conhecer de perto a história de A Bela e Fera (1740) e O Monstro da Lagoa Negra (1954), pois o cineasta faz uma combinação harmoniosa entre ambas as obras, o que nos trouxe um grande debate para a aceitação do diferente. 

Como já citado o cineasta usa de sua obra e também do cinema para trazer não apenas um romance e uma fábula, mas algo bem além, pois se observarmos atentamente, o filme é cheio de críticas ao meio social em que vivemos e também as atitudes para com o próximo. 

Além das questões citadas a cima, o filme é uma analogia ao mundo xenofóbico em que vivemos, não somente atualmente, sendo que antigamente já existiam essas mesmas questões. E não vemos relação apenas ao preconceito contra as pessoas e culturas distintas, mas também a paranoia anticomunista. Entretanto, o foco do cineasta não é no teor da guerra e sim no amor entre seres diferentes o que já vem carregado de especulações e um nível alto de rejeição por parte de pessoas preconceituosas. 

A Forma da Água pede ao público que veja o monstro anfíbio como muito mais do que aquilo que os vilões do filme estão convencidos que ele seja. Especialmente através das interações com Elisa é possível conhecer e compreender as várias facetas da criatura, ambos trazendo luz para a vida um do outro.

Mas ao mesmo tempo em que o filme nos convida a entrar na complexidade do monstro, ele nos afasta do entendimento das ações dos vilões, simplificando demais estes. Isso é especialmente crítico com o personagem Richard Strickland (Michael Shannon) que parece nada mais ser que um sádico ambicioso, com uma brevíssima exploração das suas motivações e sem dimensão emocional que o torne mais que um simples vilão.

A leitura crítica nos faz perceber o filme A Forma da Água com um olhar diferente e assim conseguirmos compreender as nuances críticas e de homenagens que Guillermo Del Toro apresentou ao longo de sua obra. 


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